domingo, 17 de julho de 2011

FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA E VULNERABILIDADE SOCIAL


Nos últimos 20 anos, várias mudanças no plano socioeconômico-culturais, pautadas no processo de globalização da economia capitalista, interferem na dinâmica e estrutura familiar possibilitando alterações em seu padrão tradicional de organização

A definição de família depende do contexto socio-cultural em que está inserida. Em nossa cultura é compreendida como um grupo de indivíduos ligados por laços de sangue que habitam a mesma casa, entretanto, não se define só pelos laços biológicos, mas pelos significantes que criam elos de sentido das relações sem os quais essas relações se esfacelam. É um grupo social composto de indivíduos que se relacionam cotidianamente gerando uma gama de emoções.

É o espaço indispensável para a garantia da sobrevivência e da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar para isso os pais ou substitutos tem a tarefa de garantir um ambiente estável e confiável; adaptação às necessidades da criança proporcionando desenvolvimento emocional saudável.

O “Sentimento de Família” se forma a partir de um emaranhado de emoções e ações pessoais, familiares e culturais, compondo o universo do mundo familiar. Esse universo é único para cada família, mas circula na sociedade nas interações com o meio social em que vivem.

Família pobre contemporânea:

A família desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é um espaço em que são transmitidos valores morais, culturais e éticos e se aprofundam os laços de solidariedade e se constroem as marcas entre as gerações.
A Família não é apenas o elo afetivo mais forte dos pobres, o núcleo da sua sobrevivência material e espiritual, o instrumento através do qual viabilizam seu modo de vida, mas é o próprio substrato de sua identidade social. Sua importância não é funcional, seu valor não é meramente instrumental, mas se refere à sua identidade de ser social e constitui o parâmetro simbólico que estrutura sua explicação do mundo.

Para as famílias pobres, marcadas pela fome e miséria, a casa representa um espaço de privação, de instabilidade e de esgarçamento dos laços afetivos e de solidariedade. A casa deixa de ser um espaço de proteção para ser um espaço de conflito.

A superação desta condição é difícil uma vez que as famílias não dispõem de REDES de APOIO. A realidade das famílias pobres impede/dificulta o desenvolvimento saudável dos seus membros uma vez que não tem acesso a ações sustentadas nos princípios dos direitos humanos.

A proteção integral à criança e ao adolescente, garantida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - artigo 4º - dispõe sobre a co-responsabilidade da família, sociedade e Poder Público.

A injustiça social exclui a família desse processo, pois não tem acesso às mínimas condições para cumprir as tarefas básicas de amparo e proteção dos seus membros de forma que eles sejam reconhecidos socialmente.

A situação socioeconomica é o fator que mais tem contribuído para a desestruturação da família repercutindo nos filhos vítimas da injustiça social e violados em seus direitos fundamentais, favorecendo o desequilíbrio das relações e a desagregação familiar.

A pobreza, a miséria, a falta de perspectiva de um projeto social que vislumbre a melhoria da qualidade de vida, impõe a toda a família uma luta desigual e desumana pela sobrevivência.

As conseqüências a que está sujeita a família pobre precipitam a ida de seus filhos para as ruas e, na maioria das vezes, o abandono da escola, a fim de ajudar no orçamento familiar.

Essa situação, inicialmente temporária, pode se estabelecer à medida que as articulações na rua vão se fortalecendo…. Assim, o retorno ao convívio familiar fica cada vez mais distante….

Percebe-se que para essas famílias, a perda ou rompimento dos vínculos produz sofrimento e leva o indivíduo à descrença de si mesmo. O indivíduo torna-se frágil e com baixa auto-estima.

Esta descrença conduz a incorporação de um sentimento desagregador.

A questão da família pobre aparece como a face mais cruel da disparidade econômica e da desigualdade social. Esse estado de privação de direitos atinge a todos de forma muito profunda, à medida que produz a banalização de sentimentos, dos afetos e dos vínculos.

Gomes & Pereira, 2004.

O ser humano é bastante complexo e contraditório, ambivalente em seus sentimentos e condutas, capaz de construir e de destruir. Em condições sociais de escassez, de privação e de falta de perspectivas, as possibilidades de amar, de construir e de respeitar o outro ficam bastante ameaçadas. Na medida em que a vida à qual está submetido não o trata enquanto homem, suas respostas tendem à rudeza da sua mera defesa da sobrevivência.

(Vicente, 1994)

No que se refere ao discurso sobre famílias pobres, aquelas consideradas vulneráveis, sobre quem incidem as intervenções, pode-se dizer que há duas vertentes básicas que fundamentam estas ações:

A primeira pode ser chamada de visão instrumental da família, que a reduz a um grupo articulador de “estratégias de sobrevivência”, pensando-a como unidade de consumo e geração de renda. Esta vertente desconsidera que mesmo vivendo em condições materiais muito precárias não se é movido apenas por exigências de sobrevivência. É desejo de todos os homens e mulheres compreender e dar sentido ao mundo em que se vive. (Sarti, 1999)

“Qualquer comunidade humana traz consigo, à sua maneira, a indagação sobre a própria existência”. A segunda vertente argumenta em favor da intervenção em famílias, a partir de uma concepção de famílias consideradas como fonte de problemas sociais (necessidade de “intervir”).

Neste discurso, ignora-se os determinantes sociais, exteriores à família, nega-se a possibilidade que a família tenha recursos próprios e potencialidade para mudar suas condições. (Sarti, 1999)

sábado, 4 de junho de 2011

Resiliência

Uma colega de estudos na USP encaminhou, por e-mail, uma reflexão sobre resiliência que compartilho com vocês:

"Quando falo de resiliência algumas vezes costumo ilustrar com o exemplo do bambu, que atingem alturas altíssimas, porém são finos e estão sempre em conjunto com outros galhos, ao bater a ventania temos a nítida impressão de que vão cair e/ou quebrar, mas nos surpreendem dançando ao vento e voltando a reerguer-se majestosamente na natureza ainda nos oferecendo sombra e segurança".

Adriana Meneghetti


domingo, 22 de maio de 2011

O PAPEL DO ESPELHO NO ROSTO DA MÃE

O elemento diferencial da teoria de Winnicott é o entendimento de que os acontecimentos dos estágios pré-primitivos constituem-se nos alicerces da personalidade saudável. Considera o meio essencial para o desenvolvimento emocional, para o autor, ao se falar da criança “deve-se mencionar dependência e natureza do ambiente”. (1959-64 p. 117)

A tese de Winnicott é a de que na primeira fase a mãe vivencia um estado psicológico (desde a gravidez) ao qual denominou preocupação materna primária, condição que lhe possibilita a adaptação sensível às necessidades do seu bebê. Como descreve no seu artigo de 1956 (2000, p. 403):

A mãe que desenvolve esse estado ao qual chamei de ‘preocupação materna primária’ fornece um contexto para que a constituição da criança comece a se manifestar, para que tendências ao desenvolvimento comecem a desdobrar-se, e para que o bebê comece a experimentar movimentos espontâneos e se torne dono das sensações correspondentes a essa etapa inicial da vida.

Grande parte do amadurecimento inicial se dá a partir da relação bebê/mãe. O bebê precisa que a mãe se adapte às necessidades dele mas, para Winnicott, é preciso permitir que a integração ocorra a partir de um impulso do bebê – garantindo assim sua pessoalidade. Se o ambiente se antecipa ao bebê sistematicamente, ou seja, tornando-se padrão, a mãe submete o bebê a um tempo externo - padrão de submissão.

Winnicott enfatiza a importância do ambiente saudável que acolha o gesto do bebê em direção à vida. Se o bebê não se desenvolver a partir de sua própria criatividade originária ele pode reagir, perde a espontaneidade (espontaneidade X reatividade). De certa forma, no decorrer do seu processo de amadurecimento, apesar da falha ambiental, o indivíduo pode até mobilizar a mente e estabelecer uma integração defensiva - o falso si-mesmo - que irá permitir uma relação adaptada com o meio. A esse respeito Dias (2007) esclarece:

Apesar de o processo de amadurecimento não ser linear, algumas conquistas têm pré-requisitos [...] Ou seja, a resolução satisfatória das tarefas de cada estágio depende de ter havido sucesso na resolução dos estágios anteriores. Se ocorre fracasso na resolução da tarefa de uma certa etapa, novas tarefas vão surgindo, mas o indivíduo, não tendo feito a aquisição anterior, carece da maturidade [...] ele pode até resolvê-las, mobilizando a mente e/ou uma integração defensiva do tipo falso si-mesmo, mas, apoiadas em bases falsas, elas não farão parte intrínseca do seu si-mesmo como aquisições pessoais.

A mãe viva, que presta todos os cuidados, possibilita a constituição da temporalidade e da previsibilidade. O ser humano necessita de asseguramento, espaço, tempo e sentido de permanência para a continuidade de ser. Quando o bebê não alcança este encontro global, por meio desses cuidados regulares e previsíveis, fica em estado de alerta. Ocorrendo sucessivas descontinuidades o bebê não consegue mais ir para o estado tranqüilo, podendo desenvolver a organização de defesas primitivas e a doença psicótica.

Winnicott (1983 [1959-1964] p. 114) compreende que “a psicose se origina num estágio em que o ser humano imaturo é inteiramente dependente do que o meio lhe propicia.” A psicose, portanto, é produzida por deficiência ambiental no estágio de dependência absoluta.” A doença é secundária à falha do ambiente “embora se revele clinicamente como um distorção mais ou menos permanente da personalidade do indivíduo.” (Winnicott [1959-64] p. 126).

O desenvolvimento inicial depende de um suprimento ambiental satisfatório, e, segundo Winnicott (1999, p. 4), “ambiente satisfatório é aquele que facilita as várias tendências individuais herdadas [...] com um alto grau de adaptação às necessidades individuais da criança”. No artigo O papel de espelho da mãe e da família no desenvolvimento infantil (1967) o autor ressalta

É, portanto, essencial, a adaptação materna suficientemente boa às necessidades do bebê; a constituição do si-mesmo só existe enquanto tal frente a esse ambiente que sustenta, saudável, que acolha o gesto do bebê em direção à vida. Para Winnicott (1983 [1963] p. 215) ambiente suficientemente bom significa que existe a mãe que está “[...] de início totalmente devotada aos cuidados do bebê, e aos poucos, se reafirma como uma pessoa independente”.

No desenvolvimento emocional individual, diz Winnicott que “o precursor do espelho é o rosto da mãe” (1975, p.153) descreve a função ambiental como o segurar, o manejar e apresentar objetos para o bebê. O bebê vê a si mesmo quando olha para o rosto da mãe...

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DIAS, E. O A Teoria do Amadurecimento de D. W. Winnicott. Rio de Janeiro, Imago, 2003.

GARCIA, R.M. A Tendência Anti-Social em D. W. Winnicott. Dissertação de mestrado em Psicologia Clínica. PUC/SP, 2004.

MORAES, A. A. R. E. A Contribuição Winnicottiana para a Teoria e Clínica da Depressão. Doutorado em Psicologia Clínica. PUC/SP, 2005.

NAFFAH, A. A noção de experiência no pensamento de Winnicott como conceito diferencial na história da psicanálise. Artigo não publicado, ago.2007.

WINNICOTT, C. & SHEPHERD, R. & DAVIS, M. (Orgs) Explorações Psicanalíticas: D. W. Winnicott. Porto Alegre, Artes Médicas, 1994.

WINNICOTT, D. W. O Ambiente e os Processos de Maturação. Porto Alegre, Artmed, 1983.

______ Pensando sobre Crianças. Porto Alegre, Artmed, 2005.

______ Natureza Humana. Rio de Janeiro, Imago, 1990.

______ 1971: O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro, Imago, 1975.

______ Privação e Delinquência. São Paulo, Martins Fontes, 1999.

______ Da Pediatria à Psicanálise: Obras Escolhidas. Rio de Janeiro, Imago, 2000.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

RESILIÊNCIA

Apesar de vivermos em plena consolidação da democracia numa época em que os direitos garantidos são pela Constituição Federal de 1988, inúmeras violações dos direitos humanos revelam práticas arbitrárias que enfraquecem as tentativas de abrir caminhos para a efetivação da política da proteção integral aos idosos, famílias, jovens. O enfrentamento das situações de falta de acesso às políticas públicas, a uma rede socioassistencial conduz a um quadro de miserabilidade, desnível social, gerando um sentimento de impotência e extremo sentimento de “viver à margem”. A miséria, a violência envolvendo jovens é objeto de análise e reflexão em inúmeros debates, buscando-se alternativas embasadas nos direitos humanos. Segundo Walsh (2005, p. 4) resiliência pode ser definida como a capacidade de renascer da adversidade fortalecido e com mais recursos. È um processo ativo de resistência, reestruturação e crescimento em resposta à crise e ao desafio A compreensão da resiliência é ampla, não se trata simplesmente de sobreviver a uma crise e sim como enfrentar e sair da situação. As qualidades da resiliência para Walsh implicam nas pessoas conseguirem se mobilizar escolhendo opções viáveis, superando crises importantes assumindo suas vidas indo em frente para viver e amar plenamente (2005, p.4). Durante um período de crise cada família possui sua especificidade no enfrentamento. Algumas famílias ficam abaladas e paralisadas ante as dificuldades, não conseguem buscar caminhos nem opções viáveis. Outras, entretanto, desenvolvem uma união e se fortalecem no sofrimento. Podemos pensar que um padrão transgeracional de enfretamento de situações difíceis está implícito na forma como cada família supera ou paralisa perante às adversidades. Podemos entender que a família pode ser uma fonte potencial de resiliência, um recurso para ajudar os seus membros a superarem uma crise ou se apoiarem mutuamente numa interação saudável num momento de crise que envolve a todos. Faz-se necessário entender os processos que estimulam a resiliência familiar, a solidez da relação.Walsh, Froma (2005, p. 03) esclarece que a abordagem da Resiliência Familiar (…) visa identificar e fortalecer processos fundamentais que permitem às famílias resistir aos desafios desorganizadores da vida e renascer a partir deles. Os objetivos da abordagem da resiliência: prevenção, intervenção clínica e pesquisa. A comunicação é essencial para a resiliência familiar nos processos de perdas. Cada membro reage à sua maneira dependendo de diversas variantes como idade, posição na família, personalidade, etc.

A capacidade de aceitar a perda está no cerne de todas as habilidades e está presente nos sistemas familiares saudáveis. Observamos, no entanto, famílias com padrões pouco adaptativos para lidar com perdas inevitáveis pois, a capacidade de aceitar a perda e mudança implica na aceitação da idéia da morte e compartilhar tristeza e receber conforto na rede de apoio. Nossa cultura dificulta o reconhecimento da nossa própria fragilidade e em pedir ajuda. Assim, os grupos sejam os sociais,ou religiosos são fundamentais e facilitadores na superação da crise.

Em meio aos tumultos sociais e econômicos das últimas décadas, as famílias estão lidando com muitas perdas, desorganizações e incertezas. Ajudando as famílias a lidar com suas perdas, nós as capacitamos a transformar e melhorar os relacionamentos enquanto desenvolvem novos potenciais para enfrentar os futuros desafios da vida.

Resiliência na doença e prestação de cuidados:

Com relação ao enfrentamento e resiliência na doença, Walsh (2005, p. 197) considera:

A doença grave pode ser experimentada como um despertar para a vida. Ela pode aumentar e alterar nossa percepção das prioridades, com freqüência perdidas nas exigências confusas da vida cotidiana. Pode nos obrigar a fazer mudanças em nossos padrões de vida, assim como em nossas esperanças e sonhos. As doenças físicas ou mentais graves impõem uma série de desafios para os casais e para as famílias, requerendo uma considerável resiliência para seu enfrentamento e adaptação.

Frente a uma situação de doença grave na família esta se defronta com um grande desafio, os membros da família, repentinamente, se vêem como cuidadores. Esta tarefa implica em possuir as qualidades de resiliência uma vez que os cuidadores, mesmo com a rede de apoio, vão vivenciar e testemunhar o adoecimento e o desenrola de um processo, muitas vezes doloroso, de seu ente querido até a morte. O envolvimento da família no tratamento é facilitado quando ela recebe o respeito e apoio comunitário.


sábado, 26 de fevereiro de 2011

Comentário da amiga




Às vezes um comentário de uma leitora fala por si só.......
Publico aqui o que uma sábia amiga comentou

O texto sobre a mulher, retrata a pura verdade. Não existe mais espaço para o ser humano " mulher". Ela não tem mais espaço para chorar, rir ou simplesmente planejar alguma coisa.

A sociedade cobra da mulher, o mesmo resultado de uma máquina, a mesma produção de uma fábrica e com isso a mulher esqueceu de si mesma. É preciso buscar e encontrar a identidade adormecida e com isso, ser novamente feliz!


Obrigada amiga....

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A Mulher


No que se refere a sua vida, seus desejos, temores e dissabores, a mulher está sem espaço. Espaço para chorar, rir de si mesma, do outro, da vida....
Qual é a imagem que cada mulher faz de si?
O ideal de beleza, a qualidade estética exigida pelo social, o apelo divulgado pela mídia, presentes nas passarelas é um ideal inalcançável para a grande maioria das mulheres e, podemos dizer que é duvidoso quanto a idéia real de beleza. Muitas passam a se comparar ao padrão estético cruelmente estabelecido e a não conviver bem consigo mesma, sua imagem corporal é distorcida - o meu corpo não é tão belo, minha pele não tem a elasticidade que deveria, estou gordinha.... A crise é iminente....
A busca pela beleza, juventude e a felicidade de se sentir desejada passam a depender do olhar do outro. A outra pessoa, o seu olhar de desejo, amor ou admiração, equivocadamente, é a única referência para que a mulher possa se sentir amada, bonita e completa.
Buscamos no outro o preenchimento de um vazio, que na verdade não é preenchido por algo ou alguém externo a nós.... Está no fundo do nosso ser.
Em primeiro lugar, é preciso encontrar nossa identidade feminina, conhecer o próprio corpo, a plenitude do desejo, para, finalmente, investir em si mesma, encontrar seu espaço, seu momento, escutar e ser a mulher bela que está em cada uma de nós.
Essa mulher que desvela a si mesma se abre a mudanças significativas .....