A questão do ambiente provedor é um tema fundamental na teoria do amadurecimento pessoal desenvolvida pelo psicanalista inglês Donald Woods Winnicott. Para o autor, a família deve proporcionar um ambiente seguro e confiável, com boas condições para o crescimento emocional, bem como proporcionar ao adolescente um espaço para a manifestação da esperança. Winnicott enfatiza na sua obra a importância do meio ambiente facilitador que permitirá o crescimento emocional saudável do ser humano.
Se
a família está indisponível para ser usada, justifica-se a existência de
unidades sociais para conter o processo de crescimento do adolescente, uma vez
que as pessoas necessitam de um espaço na sociedade que garanta sua saúde e realização pessoal . Nesse processo a
sociedade exerce um papel fundamental.
Winnicott ressalta a
importância das condições ambientais para a constituição da identidade
unitária, incluída aí a capacidade de relacionar-se com o mundo e com os
objetos externos e de estabelecer relacionamentos interpessoais. As falhas
ambientais podem comprometer a autonomia e desenvolvimento do indivíduo
atingindo sua capacidade de inserir-se na cultura e no meio social.
O autor preocupa-se com o ambiente suficientemente
bom e estável que permita à criança e ao adolescente o viver criativo e humano.
Winnicott foca nos seus escritos, sobretudo, as relações inter-humanas.
A psicanálise
winnicottiana e a Doutrina da Proteção Integral convergem no que se refere à
análise das dinâmicas, humana, social e institucional. Para o autor, mediante
os cuidados e um ambiente estável familiar,
o ser humano pode conquistar, com saúde, seu amadurecimento emocional e o viver
criativo. A Doutrina da Proteção Integral reconhece como direito absoluto das
crianças e adolescentes, o acesso às políticas sociais básicas, a
responsabilização da família e do Estado para garantir o desenvolvimento saudável
do indivíduo.
O estado de desamparo
psíquico vivenciado pelo bebê frente à angústia da perda da mãe pode ser
similar àquele vivido pelas crianças e adolescentes que não tem assegurado seus
direitos fundamentais e não são reconhecidos pela sociedade. Compreende-se que
a falha no ambiente familiar, a perda vivenciada pela criança no estágio da
dependência relativa e o não asseguramento da sua identidade como ser
reconhecido socialmente, devido a falhas no asseguramento dos direitos
fundamentais de acordo com a Doutrina da Proteção Integral, pode levar crianças
e adolescentes às práticas delituosas.
Compreender o
adolescente como sujeito de direitos vem ao encontro do que escreve Clare
Winnicott ao destacar o enunciado de Winnicott acerca da importância do respeito
aos direitos humanos na atenção integral ao jovem com tendência antissocial:
Hoje, como sempre, a questão prática é como manter um
ambiente que seja suficientemente humano, e suficientemente forte, para conter
os que prestam assistência aos destituídos e delinquentes que necessitam desesperadamente de cuidados e
pertencimento, mas fazem o possível para destruí-los quando o encontram. (1983,
p. XVI)
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