O termo narcisismo surgiu pela primeira vez em Freud numa nota de 1910, acrescentadas aos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade.
Em Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância e no Caso Schereber (1911), Freud também considerou o narcisismo como um estádio normal da evolução sexual.
O termo adquiriu valor de conceito em 1914, quando Freud escreveu Sobre o narcisismo: uma introdução. A partir de então, o narcisismo passa a ocupar um lugar essencial na teoria do desenvolvimento sexual (Roudinesco e Plon, 1998).
No escrito Freud observa:
A libido afastada do mundo externo é dirigida para o ego e assim dá margem a uma atitude que pode ser chamada de narcisismo
No texto de 1914, através da observação do delírio de grandeza no psicótico, Freud definiu o narcisismo como atitude resultante da retirada dos investimentos libidinais feitos nos objetos do mundo externo para o eu do sujeito. Esse movimento de retirada só pode produzir-se se precedido pelo investimento dos objetos externos por libido proveniente no eu.
A partir de 1914, a noção de narcisismo adquire estatuto conceitual no conjunto da teoria psicanalítica; mas, a distinção entre narcisismo primário e narcisismo secundário adquire contornos definidos após a elaboração da 2ª tópica freudiana.
Em Sobre o narcisismo... Freud escreve que uma unidade comparável ao eu não pode existir no sujeito desde o início, o eu tem que desenvolver-se. As pulsões auto-eróticas estão presentes desde o início, assim, algo é acrescentado ao auto-erotismo de forma a ocasionar o narcisismo. O que se acrescenta ao auto-erotismo para dar forma ao narcisismo é o eu ((Ich, no alemão).
O narcisismo é visto como um componente normal da sexualidade e o processo constituinte da subjetividade. No texto de 1914 fica clara a existência de três modos distintos e sequenciais de funcionamento libidinal:
1º Auto-erotismo - não há diferenciação entre eu e objeto.
2º Narcisismo - passagem de completa indiferenciação para a constituição do eu como unidade.
3º Escolha de objeto - a libido é investida no mundo externo.
É a partir do estudo sobre o narcisismo que este deixa de ser uma perversão e passa a ser apontado como constituinte da subjetividade.
O narcisismo, para Freud, é condição de formação do eu.
A criança passa, no começo de sua vida, por uma fase de narcisismo primário, na qual os objetos externos não são reconhecidos como tais. A energia pulsional é investida no próprio eu. Posteriormente, o bebê começa a ser capaz de perceber sua mãe como objeto que satisfaz. A relação com ela se dá, em grande parte, através do ato de mamar. A criança sai do narcisismo primário porque seu eu se vê confrontado com um ideal com o qual se compara. A criança é submetida às exigências do mundo, exigências traduzidas através da linguagem.
Referências Bibliográficas:
FREUD. S. Ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905, v. VII). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas (E.S.B). Rio de Janeiro: Imago, 1974.
________. Sobre o narcisismo: uma introdução (1914, v. XIV). E.S.B. Rio de Janeiro: Imago 1974.
ROUDINESCO, E. & PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
ROCCO, C. Depressão: um estudo psicanalítico. Trabalho de graduação interdisciplinar. Universidade Mackenzie, São Paulo, 1997.
________. Narcisismo. Trabalho apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Especialista em Psicanálise no Curso de Especialização em Teoria Psicanalítica - COGEAE - PUC/SP.