sábado, 21 de setembro de 2013

Conceito de narcisismo na obra de Freud: pequena contribuição


O termo narcisismo surgiu pela primeira vez em Freud numa nota de 1910, acrescentadas aos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade.

Em Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância e no Caso Schereber (1911), Freud também considerou o narcisismo como um estádio normal da evolução sexual.

O termo adquiriu valor de conceito em 1914, quando Freud escreveu Sobre o narcisismo: uma introdução. A partir de então, o narcisismo passa a ocupar um lugar essencial na teoria do desenvolvimento sexual (Roudinesco e Plon, 1998).

No escrito Freud observa:
A libido afastada do mundo externo é dirigida para o ego e assim dá margem a uma atitude que pode ser chamada de narcisismo

No texto de 1914, através da observação do delírio de grandeza no psicótico, Freud definiu o narcisismo como atitude resultante da retirada dos investimentos libidinais feitos nos objetos do mundo externo para o eu do sujeito. Esse movimento de retirada só pode produzir-se se precedido pelo investimento dos objetos externos por libido proveniente no eu.

A partir de 1914, a noção de narcisismo adquire estatuto conceitual no conjunto da teoria psicanalítica; mas, a distinção entre narcisismo primário e narcisismo secundário adquire contornos definidos após a elaboração da 2ª tópica freudiana.

Em Sobre o narcisismo... Freud escreve que uma unidade comparável ao eu não pode existir no sujeito desde o início, o eu tem que desenvolver-se. As pulsões auto-eróticas estão presentes desde o início, assim, algo é acrescentado ao auto-erotismo de forma a ocasionar o narcisismo. O que se acrescenta ao auto-erotismo para dar forma ao narcisismo é o eu ((Ich, no alemão).

O narcisismo é visto como um componente normal da sexualidade e o processo constituinte da subjetividade. No texto de 1914 fica clara a existência de três modos distintos e sequenciais de funcionamento libidinal:

1º Auto-erotismo - não há diferenciação entre eu e objeto.

2º Narcisismo - passagem de completa indiferenciação para a constituição do eu como unidade.

3º Escolha de objeto - a libido é investida no mundo externo.

É a partir do estudo sobre o narcisismo que este deixa de ser uma perversão e passa a ser apontado como constituinte da subjetividade.

O narcisismo, para Freud, é condição de formação do eu.

A criança passa, no começo de sua vida, por uma fase de narcisismo primário, na qual os objetos externos não são reconhecidos como tais. A energia pulsional é investida no próprio eu. Posteriormente, o bebê começa a ser capaz de perceber sua mãe como objeto que satisfaz. A relação com ela se dá, em grande parte, através do ato de mamar. A criança sai do narcisismo primário porque seu eu se vê confrontado com um ideal com o qual se compara. A criança é submetida às exigências do mundo, exigências traduzidas através da linguagem.


Referências Bibliográficas:

FREUD. S. Ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905, v. VII). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas (E.S.B). Rio de Janeiro: Imago, 1974.

________. Sobre o narcisismo: uma introdução (1914, v. XIV). E.S.B. Rio de Janeiro: Imago 1974.

ROUDINESCO, E. & PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

ROCCO, C. Depressão: um estudo psicanalítico. Trabalho de graduação interdisciplinar. Universidade Mackenzie, São Paulo, 1997.

________. Narcisismo. Trabalho apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Especialista em Psicanálise no Curso de Especialização em Teoria Psicanalítica - COGEAE - PUC/SP.

domingo, 8 de setembro de 2013

Esperança e Criatividade





"O paradoxo de nossa época é que a esperança é ligada à desesperança
(...) Há princípios de esperança nas possibilidades criadoras da humanidade,
nas escolas, instituições onde as mentes dos pequenos são domesticadas ".

(Edgar Morin, 2009)

Para atingir um amadurecimento emocional que permita um viver criativo, a criança precisa ter espaço para pensar... ser estimulada a buscar suas próprias respostas para um universo de perguntas que borbulham na sua mente curiosa.

O silêncio da mente é como uma doença que impede a evolução do ser no mundo e as mudanças sociais.

A curiosidade, a inquietude é o que instiga a pesquisa, a busca pelo saber.

Domesticar a mente de uma criança impede a formação de um adulto crítico e politizado.

As instituições, ainda totais, formam indivíduos com uma mente que não pensa, reproduz modelos arcaicos de pensar o mundo.

O pensar criativo e a esperança transformam o homem ao mesmo tempo em que permitem que ele transforme o mundo.

O papel dos pais, como representantes da primeira instituição da criança - a família - é primordial para possibilitar um processo de amadurecimento emocional que permita um viver criativo e espontâneo (D. W. Winnicott).