domingo, 27 de maio de 2012
A INTERDISCIPLINARIDADE E A PRÁTICA SOCIOEDUCATIVA
Fazenda (1996, p. 14, grifos meus) diz que “perceber-se interdisciplinar é o primeiro movimento em direção a um fazer interdisciplinar e a um pensar interdisciplinar”. Partindo desse pressuposto pretende-se promover uma reflexão, a partir das inúmeras pesquisas coordenadas por Ivani Fazenda que, desde 1986, está à frente do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Interdisciplinaridade na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.
Pensar, numa perspectiva interdisciplinar, remete aos objetivos das Instituições executoras de medidas socioeducativas. Observa-se um esforço contínuo para introduzir na prática institucional a implementação de um atendimento humanizado e personalizado ao adolescente autor de ato infracional.
A interdisciplinaridade não pode ser apenas restrita ao discurso. É necessário o envolvimento e compromisso de todos os profissionais que compõe uma equipe e são responsáveis pela atenção socioeducativa, pelo cuidado prestado aos adolescentes.
A responsabilidade individual é a marca do projeto interdisciplinar, assim, os profissionais envolvidos no projeto estarão, por conseguinte, buscando elementos para revisitar antigas práticas e, num exercício de construção coletiva, introdução o novo que leva a mudança paradigmática.
Partindo das minhas observações, reflexões, estudos, escuta do outro, experiências profissionais, acadêmicas e minha trajetória de vida, passo a tecer considerações sobre os caminhos que a interdisciplinaridade pode desvelar e/ou legitimar o processo socioeducativo do adolescente como também à sua família.
No imaginário de alguns profissionais que atuam nas instituições qualquer conhecimento que leve a uma nova prática está intimamente ligado a uma transformação a um "desdizer o que já foi dito". Assim, estabelece-se uma sensação de impotência e fracasso frente ao desafio. A defesa utilizada é arraigar-se ao antigo: mesmo sendo ruim é o conhecido, novos caminhos são desconhecidos, assustam e paralisam alguns profissionais.
Esse "engessamento", impeditivo do crescimento pessoal e profissional do indivíduo prejudica a dinâmica institucional, o cotidiano em uma unidade. O profissional precisa de um espaço de troca, do reconhecimento do seu saber, do diálogo que romperá essa percepção fragmentária trazendo para a sua existência uma concepção global de mundo. Como diz Paulo Freire “O conhecimento se constitui nas relações homem-mundo”.
A interdisciplinaridade rompe limites, para isso Ivani Fazenda propõe a construção de um conhecimento globalizante, uma postura interdisciplinar de busca, de inclusão, de acordo e de sintonia. Dessa maneira, todos ganham com o "fazer socioeducativo" na linha interdisciplinar, os profissionais compromissados melhoram a interação com o grupo de trabalho.
A proposta de atuação socioeducativa passa a ser ágil e eficiente tendo a colaboração, parceria e diálogo entre a equipe, trata-se de um fazer coletivo e solidário. Para Ivani Fazenda a dialogicidade pressupõe a intersubjetividade ou seja, o pensamento do outro é tão válido quanto o meu para mim por isso, cada profissional envolvido na ação socioeducativa deve ter uma atitude aberta e receptiva. É primordial olhar o outro – olhar o que é latente e manifesto – desvelando as necessidades do outro enxergando-o como outro e olhar a si mesmo.
Todos ganham ao trilhar pelos caminhos da interdisciplinaridade: o adolescente tem voz e é ouvido considerando-se sua singularidade ao mesmo tempo que recebe os cuidados necessários ao seu desenvolvimento emocional. Além disso, os adolescentes aprendem a trabalhar em grupo, melhoram a interação entre eles, com os socioeducadores e com seus familiares.
O socioeducador é a referência do adolescente e dos seus familiares para tanto, deve ter clareza dos princípios que subsidiam a prática interdisciplinar, como elucida Ivani Fazenda: humildade, espera, respeito, coerência e desapego.
Ser referência é um lugar que implica envolvimento contínuo, uma troca com o grupo constante, uma avaliação e reavaliação da ação socioeducativa. É a responsabilização pela vida do outro e isso implica em ter apoio, suporte e referências. O profissional comprometido com a difícil tarefa de trabalhar com os adolescentes em conflito com a lei precisam da presença permanente da sua equipe, da troca intersubjetiva que o alimente como ser humano e profissional. É um movimento dinâmico, em forma de espiral, busca contínua com afetividade e muita ousadia.
A interdisciplinaridade, seus caminhos e descaminhos traz fundamentos conceituais e práticos que falam por si só. Esses fundamentos aplicados à prática influirão na forma de pensar o adolescente e a intervenção institucional. A trilha interdisciplinar aponta as possibilidades para o profissional seja ele o que atua diretamente ou indiretamente com o jovem infrator. Sua efetivação é, ao meu ver, um exercício, de construção e implantação de um novo paradigma.
BIBLIOGRAFIA
FAZENDA, Ivani Catarina Alves (Org.). Práticas Interdisciplinares na Escola. São Paulo: Cortez, 1996.
________. Interdisciplinaridade: qual o sentido? São Paulo: Editora Paulus, 2003.
________. Desafio e perspectivas do trabalho interdisciplinar no Ensino Fundamental Contribuições das pesquisas sobre Interdisciplinaridade no Brasil: O reconhecimento de um percurso. São Paulo: artigo não publicado (s/d).
TEIXEIRA, Maria Elisa de M. P. Interdisciplinaridade: mudança de concepção no ensino. Disponível em http://www.vestibular1.com.br/revisao/interdisciplinaridade Acessado em 2 de abril de 2010.
domingo, 22 de abril de 2012
Recebi de uma seguidora... compartilho com vocês, afinal, diz um pouco sobre todas nós..
"Perder-se também é caminho....”
Clarice Lispector
"Noutro dia me perguntaram como eu fazia para ser tão forte e tranquila para enfrentar com determinação as dificuldades que nos enlouquecem no dia a dia, ainda mais em uma cidade como São Paulo...
Sinceramente? Tomei o maior susto! Logo eu? Filhos, cachorros, alegrias, decepções, tristezas, sou inquieta, gosto de desafios, odeio rotina e por aí vai..
Não soube responder.... realmente levo a vida com espontaneidade suficiente para não conseguir nomear meu caminhar. Sei que não desisto... vou... não, literalmente corro atrás do que eu quero. Como Clarice disse, não tenho medo de me perder ....
Num momento ou outro, me encontro e, verdade seja dita, tenho muita sorte, nunca me faltou uma mão amiga, alguém que me desse um ombro pra chorar, alguém que me estimulasse a continuar.... pessoas que estão no coração e as que estão guardadas na memória com muito carinho..."
domingo, 6 de novembro de 2011
O adolescente autor de ato infracional: contexto sócio-histórico, moral e cultural
O adolescente autor de ato infracional é problema de grande mobilização social. No percurso deste jovem muitas vezes prevalece a invisibilidade e o não-reconhecimento social. A expressão da destrutividade e da violência tornam-se uma forma encontrada pelos adolescentes de “sobreviverem” enquanto sujeitos massificados pelo descaso social.
O psicanalista inglês Donald Woods Winnicott é considerado inovador nas pesquisas sobre adolescência e delinquência . Os estudos da sua obra provocou reflexões e inquietações sobre as especificidades da ações desenvolvidas junto ao jovem. O autor problematiza dois aspectos fundamentais para o estudo do processo adolescente, assim como para a compreensão da delinquência: o primeiro é quando ressalta a importância de uma análise cuidadosa do contexto histórico-social em que o adolescente está inserido e o segundo é o espaço relevante que atribui ao ambiente familiar, que, a seu ver, deve ser suficientemente bom e humano para possibilitar ao bebê um processo contínuo de desenvolvimento emocional.
O autor enfatiza, nos seus escritos, a necessidade da compreensão do adolescente como sujeito de direitos destacando a importância do respeito aos direitos humanos na atenção integral ao jovem com tendência antissocial:
Hoje, como sempre, a questão prática é como manter um ambiente que seja suficientemente humano, e suficientemente forte, para conter os que prestam assistência e os destituídos e delinqüentes que necessitam desesperadamente de cuidados e pertencimento, mas fazem o possível para destruí-los quando o encontram. (1983, p. XVI)
O adolescente que comete um ato infracional pode ter vivenciado a experiência de “não ser visto”, talvez não legitimado na condição de sujeito de direitos sociais básicos. A omissão do Estado, a “invisibilidade” social, o reconhecimento controvertido das instituições, o problema da humilhação social, a violência familiar, pais e filhos numa relação de agressão mútua, uma trama de privações, abandonos ou verdadeiras e privações materiais e afetivas podem levar o jovem a pensar na violência como forma de “marcar” um espaço social.
Nesse contexto de sofrimento, o adolescente sai de casa, fugindo das situações de riscos intrafamiliares. Essa saída, na sua fantasia, é uma possibilidade de romper com o processo de coisificação imposto, tornando-se sujeito de sua própria história por meio de um empoderamento que as ruas conferem. Entretanto, o adolescente encontra nas estruturas urbanas e no grupo marginal outras situações de riscos e isolamento que comprometem seu desenvolvimento, mas, que são vistas como sua única possibilidade de pertença.
O grupo delinquente exige, dos adolescentes e jovens, adesão incondicional o que implica participação coletiva nos ato de furtar, roubar, matar, sequestrar, traficar. O vínculo que se estabelece produz um segredo e cultura comum. A transgressão coletiva pode solidificar o grupo, estabelecer sentimento de pertença e garantir reconhecimento mútuo. Nessa organização o líder exerce o poder, talvez reproduzindo as relações sociais.
É relevante pensar que a diferença na posição social do sujeito pode influenciar, significativamente, na estruturação de sua adolescência. As desigualdades sociais dificultam o processo da adolescência do jovem de classe menos favorecida, pois ele se ocupa de questões básicas de sobrevivência. Os jovens ficam à deriva, não há como desenvolver o sentido da própria identidade, ou seja, não há espaço para sua construção enquanto sujeitos, se é negado o acesso à educação, saúde e respeito.
As pesquisas desenvolvidas sobre o adolescente e delinquência devem ser ampliadas na perspectiva da teoria crítica considerando a psicanálise de Winnicott sobre o processo de amadurecimento emocional do ser humano e o pensamento e Axel Honneth.
No exercício das minhas atribuições profissionais e nos meus estudos transitei por questões essencialistas que perpassam a vida do ser humano como ser inserido num contexto sócio histórico, moral e cultural.
domingo, 31 de julho de 2011
Estágio do concernimento
Winnicott (1948)
Winnicott (1963) formula sua compreensão acerca do estágio do concernimento, frisando “ser uma condição para a conquista do concernimento a passagem pelos estágios iniciais sem demasiados problemas” (Moraes, 2005, p. 220, grifo da autora). Entendemos que é importante ressaltar esta introdução ao estudo deste estágio realizada pelo autor:
Estamos examinando a psicologia do estágio que acontece imediatamente depois do novo ser humano ter alcançado o status de unidade [...] Gostaria de deixar aqui a observação de que quanto mais recuarmos na história individual, mais verdadeira se torna a proposição segundo a qual não há sentido em falarmos sobre o indivíduo sem considerarmos um ambiente suficientemente bom que se adapte às suas necessidades (2000 [1954-5, p. 360].).
A capacidade para o concernimento resulta de um cuidado suficientemente bom e seu desenvolvimento está ligado à saúde psíquica. No desenvolvimento emocional certas condições externas são necessárias para o amadurecimento pessoal. Como Winnicott diz:
A provisão ambiental continua a ser vitalmente importante aqui, embora o lactente esteja sendo capaz de possuir uma estabilidade interna que faz parte do desenvolvimento da independência (1983 [1963], p.72).
Assim, mediante estes cuidados, o bebê alcança, em algum grau, o estatuto de um EU unitário como também já pode realizar a tarefa de integração da vida instintual. Estes seriam os pré-requisitos para a entrada no estágio do concernimento.
O bebê aqui já se percebe como uma unidade e à mãe como pessoa separada, inicia a integração da instintualidade como parte do seu eu. A criança percebe que ama e odeia o mundo fora dela e a realidade de que possui impulsos amorosos e destrutivos para com o mesmo objeto. Desta forma, se vê concernida pelo amor e pelo ódio, Winnicott é enfático ao afirmar que só a sustentação ambiental permite esta relação.
Portanto, o concernimento (Concern), considerado por Winnicott como uma experiência que demanda certo desenvolvimento emocional, surge com a integração da mãe-ambiente e mãe-objeto na mente do bebê. É neste estágio que ocorrem alterações importantes no mundo interno da criança em função do seu amadurecimento pessoal.
Para ele, o termo concernimento é utilizado para dar conta, de um modo positivo, do fenômeno que é abarcado negativamente pela palavra ‘culpa’. O concernimento implica uma maior integração e relaciona-se a um sentimento de responsabilidade, refere-se ao fato de que o indivíduo se importa ou se preocupa, aceitando a sua responsabilidade.
O autor diz que nesta fase a relação é eminentemente dual, mas, embora tente situar a época em que o momento ocorre, acredita que não existe uma precisão absoluta uma vez que o amadurecimento do ser humano acontece ao longo da vida:
Há uma boa razão para se acreditar que preocupação – com seu aspecto positivo – emerge no desenvolvimento emocional inicial da criança em um período anterior ao do clássico complexo de Édipo, que envolve um relacionamento a três pessoas, cada uma sendo percebida como uma pessoa completa pela criança. Mas não há necessidade de ser preciso sobre a época, e na verdade a maioria dos processos que se iniciam no início da infância nunca está completamente estabelecido e continuam a ser reforçados pelo crescimento que continua posteriormente na infância e através da vida adulta, até mesmo na velhice (1983 [1963], p.71).
A elaboração da capacidade para o concernimento é longa e é o fundamento para a capacidade de brincar e, posteriormente, trabalhar. Em seu texto de 1963, Winnicott esclarece:
Preocupação indica o fato do indivíduo se importar, ou valorizar, e tanto sentir como aceitar responsabilidade. Em nível genital no enunciado da teoria do desenvolvimento, preocupação pode ser considerada a base da família, cujos membros unidos na cópula – além de seu prazer – assumem responsabilidade pelo resultado. Mas na vida imaginária total do indivíduo, o tema da preocupação levanta até questão mais ampla, e a capacidade de se preocupar está na base de todo brinquedo e trabalho construtivo. Pertence ao viver normal, sadio, e merece a atenção do psicanalista.
*Parte de capítulo da minha dissertação de mestrado.
domingo, 17 de julho de 2011
FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA E VULNERABILIDADE SOCIAL
Nos últimos 20 anos, várias mudanças no plano socioeconômico-culturais, pautadas no processo de globalização da economia capitalista, interferem na dinâmica e estrutura familiar possibilitando alterações em seu padrão tradicional de organização
A definição de família depende do contexto socio-cultural em que está inserida. Em nossa cultura é compreendida como um grupo de indivíduos ligados por laços de sangue que habitam a mesma casa, entretanto, não se define só pelos laços biológicos, mas pelos significantes que criam elos de sentido das relações sem os quais essas relações se esfacelam. É um grupo social composto de indivíduos que se relacionam cotidianamente gerando uma gama de emoções.
É o espaço indispensável para a garantia da sobrevivência e da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar para isso os pais ou substitutos tem a tarefa de garantir um ambiente estável e confiável; adaptação às necessidades da criança proporcionando desenvolvimento emocional saudável.
O “Sentimento de Família” se forma a partir de um emaranhado de emoções e ações pessoais, familiares e culturais, compondo o universo do mundo familiar. Esse universo é único para cada família, mas circula na sociedade nas interações com o meio social em que vivem.
Família pobre contemporânea:
A família desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é um espaço em que são transmitidos valores morais, culturais e éticos e se aprofundam os laços de solidariedade e se constroem as marcas entre as gerações.
A Família não é apenas o elo afetivo mais forte dos pobres, o núcleo da sua sobrevivência material e espiritual, o instrumento através do qual viabilizam seu modo de vida, mas é o próprio substrato de sua identidade social. Sua importância não é funcional, seu valor não é meramente instrumental, mas se refere à sua identidade de ser social e constitui o parâmetro simbólico que estrutura sua explicação do mundo.
Para as famílias pobres, marcadas pela fome e miséria, a casa representa um espaço de privação, de instabilidade e de esgarçamento dos laços afetivos e de solidariedade. A casa deixa de ser um espaço de proteção para ser um espaço de conflito.
A superação desta condição é difícil uma vez que as famílias não dispõem de REDES de APOIO. A realidade das famílias pobres impede/dificulta o desenvolvimento saudável dos seus membros uma vez que não tem acesso a ações sustentadas nos princípios dos direitos humanos.
A proteção integral à criança e ao adolescente, garantida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - artigo 4º - dispõe sobre a co-responsabilidade da família, sociedade e Poder Público.
A injustiça social exclui a família desse processo, pois não tem acesso às mínimas condições para cumprir as tarefas básicas de amparo e proteção dos seus membros de forma que eles sejam reconhecidos socialmente.
A situação socioeconomica é o fator que mais tem contribuído para a desestruturação da família repercutindo nos filhos vítimas da injustiça social e violados em seus direitos fundamentais, favorecendo o desequilíbrio das relações e a desagregação familiar.
A pobreza, a miséria, a falta de perspectiva de um projeto social que vislumbre a melhoria da qualidade de vida, impõe a toda a família uma luta desigual e desumana pela sobrevivência.
As conseqüências a que está sujeita a família pobre precipitam a ida de seus filhos para as ruas e, na maioria das vezes, o abandono da escola, a fim de ajudar no orçamento familiar.
Essa situação, inicialmente temporária, pode se estabelecer à medida que as articulações na rua vão se fortalecendo…. Assim, o retorno ao convívio familiar fica cada vez mais distante….
Percebe-se que para essas famílias, a perda ou rompimento dos vínculos produz sofrimento e leva o indivíduo à descrença de si mesmo. O indivíduo torna-se frágil e com baixa auto-estima.
Esta descrença conduz a incorporação de um sentimento desagregador.
A questão da família pobre aparece como a face mais cruel da disparidade econômica e da desigualdade social. Esse estado de privação de direitos atinge a todos de forma muito profunda, à medida que produz a banalização de sentimentos, dos afetos e dos vínculos.
Gomes & Pereira, 2004.
O ser humano é bastante complexo e contraditório, ambivalente em seus sentimentos e condutas, capaz de construir e de destruir. Em condições sociais de escassez, de privação e de falta de perspectivas, as possibilidades de amar, de construir e de respeitar o outro ficam bastante ameaçadas. Na medida em que a vida à qual está submetido não o trata enquanto homem, suas respostas tendem à rudeza da sua mera defesa da sobrevivência.
(Vicente, 1994)
No que se refere ao discurso sobre famílias pobres, aquelas consideradas vulneráveis, sobre quem incidem as intervenções, pode-se dizer que há duas vertentes básicas que fundamentam estas ações:
A primeira pode ser chamada de visão instrumental da família, que a reduz a um grupo articulador de “estratégias de sobrevivência”, pensando-a como unidade de consumo e geração de renda. Esta vertente desconsidera que mesmo vivendo em condições materiais muito precárias não se é movido apenas por exigências de sobrevivência. É desejo de todos os homens e mulheres compreender e dar sentido ao mundo em que se vive. (Sarti, 1999)
“Qualquer comunidade humana traz consigo, à sua maneira, a indagação sobre a própria existência”. A segunda vertente argumenta em favor da intervenção em famílias, a partir de uma concepção de famílias consideradas como fonte de problemas sociais (necessidade de “intervir”).
Neste discurso, ignora-se os determinantes sociais, exteriores à família, nega-se a possibilidade que a família tenha recursos próprios e potencialidade para mudar suas condições. (Sarti, 1999)
sábado, 4 de junho de 2011
Resiliência
"Quando falo de resiliência algumas vezes costumo ilustrar com o exemplo do bambu, que atingem alturas altíssimas, porém são finos e estão sempre em conjunto com outros galhos, ao bater a ventania temos a nítida impressão de que vão cair e/ou quebrar, mas nos surpreendem dançando ao vento e voltando a reerguer-se majestosamente na natureza ainda nos oferecendo sombra e segurança".